JORNAL AMAZONAS

“Sob o Fuzil e o Machado”: expansão de facções transforma a Amazônia Legal

A Amazônia Legal enfrenta uma realidade alarmante: quase metade de seus municípios está sob influência direta de organizações criminosas. O avanço das facções não se limita ao tráfico de drogas; estende-se ao garimpo ilegal, ao desmatamento e à disputa por terras, combinando violência e controle territorial com exploração de recursos naturais.

O levantamento mais recente indica que 344 dos 772 municípios da região apresentam presença de facções criminosas, cerca de 45% do total. Entre os grupos mais atuantes estão o Comando Vermelho (CV) e o Primeiro Comando da Capital (PCC), além de organizações menores e regionais, totalizando 17 facções identificadas. A diversidade e fragmentação do crime organizado na região revelam um quadro complexo de disputas por poder e influência.

O Comando Vermelho atua em 286 municípios, controlando 202 deles e disputando outros 84. O PCC está presente em 90 localidades, com 31 sob seu domínio e 59 em disputa. Essa dispersão evidencia a transformação da Amazônia Legal em um território de conflitos constantes, onde as facções disputam espaços estratégicos para tráfico, exploração de minérios e controle de atividades ilegais.

O domínio do crime se intensifica em estados como Mato Grosso, Pará, Amazonas e Amapá, onde as facções impõem regras sobre garimpeiros e exploradores ilegais, utilizando intimidação e violência contra quem resiste. Nesse contexto, controlar o desmatamento ou o garimpo ilegal significa também controlar economicamente os territórios.

A violência letal na região reflete essa presença criminosa. Foram registradas mais de oito mil mortes violentas intencionais no último ano de análise, com uma taxa de homicídios 31% acima da média nacional. Entre as vítimas estão mulheres, cuja vulnerabilidade se evidencia na região, com índices de homicídios femininos superiores à média do país, especialmente em áreas remotas dominadas por facções.

A presença das organizações criminosas também traz impactos ambientais graves. A combinação de narcotráfico, extração mineral ilegal e desmatamento compromete políticas de preservação da floresta, enquanto gera receitas ilícitas significativas para os grupos criminosos. Essa situação cria um modelo predatório que ameaça não apenas a biodiversidade, mas também as comunidades tradicionais e indígenas da região.

Especialistas em segurança e meio ambiente alertam que a expansão das facções na Amazônia Legal representa um risco estrutural. Em áreas onde o Estado não exerce controle pleno, a impunidade favorece a continuidade das atividades criminosas, comprometendo direitos humanos, preservação ambiental e desenvolvimento sustentável.

O cenário aponta para um desafio complexo: a Amazônia Legal tornou-se palco de uma ofensiva silenciosa, onde crime organizado redefine fronteiras de poder. A combinação de armas com exploração ilegal da floresta, tráfico com desmatamento, violência com controle econômico, exige ações integradas de segurança, justiça e preservação ambiental. O futuro da floresta e das populações que nela vivem depende da capacidade de enfrentar essa ameaça de forma estratégica e coordenada.